10-03-2015: Na cesta do Chontaduro – Colômbia
“Chontaduro” é uma fruta muito comum na Colômbia. No Brasil, é o fruto da pupunha. É comum ver mulheres negras vindas da costa do pacífico nas cidades colombianas carregando uma cesta com chontaduro na cabeça. Por isso, o projeto ” Casa Cultural el Chontaduro” escolheu esse nome que tem tudo a ver com suas origens. Em Aguabranca, periferia de Cali, grande parte dos moradores são afrodescendentes e migraram da costa do pacífico para essa cidade no centro do país.
As circunstâncias dessa imigração em geral são complicadas. A Colômbia ainda hoje enfrenta problemas de violência devido aos paramilitares, grupos guerrilheiros e as forças armadas do país. Nessa história é difícil distinguir quem luta por causas nobres ou não, mas as consequências para o país são devastadoras. Muitas das famílias que acabam nas grandes cidades foram expulsas de suas terras por grupos paramilitares (grupos armados particulares de extrema direita) ou guerrilheiros (revolucionários de extrema esquerda). Muitos migram para escapar da miséria em busca de melhores condições de vida, mas a maioria acaba também enfrentando grandes dificuldades nas periferias das grandes cidades.
Marroquín III é um pequeno bairro localizado no distrito de Aguablanca, a região com maiores índices de violência de Cali, que é a cidade mais violenta de toda a Colômbia. Nesse ambiente, uma organização comunitária prospera e impacta fortemente nos seus habitantes. Seu objetivo é uma sociedade justa e equitativa construída com a coletividade através das artes, dança, teatro e outras atividades de educação e espaços de discussão. Trabalhando com crianças, jovens e adultos da comunidade, usa a arte como estratégia para a formação de pessoas críticas e comprometidas com a busca por soluções coletivas para as problemáticas de seu país.
Durante a minha estadia em El Chontaduro, pude acompanhar as aulas de teatro e dança, onde os professores são membros da comunidade que foram formados ali mesmo e seguiram o caminho se especializando em universidades locais. Conheci a biblioteca e o projeto de fomento à leitura com as crianças e participei de um encontro de alguns dias para a discussões sobre a paz e o papel dos setores populares na sua construção. Também, tive a oportunidade de participar do “Foro AfroUrbano”, um evento para a discussão sobre a vivência, desafios e questões referentes às pessoas negras no meio urbano.
Todas essas atividades, assim como grupos de estudos organizados, proporcionam a possibilidade de empoderamento das pessoas, para que compreendam sua realidade e tenham voz ativa na análise de problemáticas que afetam seu dia-a-dia. É a população produzindo conteúdo e escrevendo sobre ela mesma e desde sua própria perspectiva, ao invés de deixar esse processo à cargo apenas de pesquisadores acadêmicos, quase sempre agentes externos.
A estadia da Expedição Mutare com a Casa Cultural El Chontaduro, trouxe um imenso aprendizado. Além da troca de experiências, o maior projeto ao qual me dediquei em conjunto com os jovens da comunidade foi a produção de um vídeo participativo com a temática da Paz. O trabalho foi intenso e o resultado bem interessante! Confira aqui no canal do youtube da Expedição Mutare!