19-03-2015: Vitalina: uma luz em meio aos escombros – Peru


A cidade de Pisco, no sul do Peru, enfrenta dificuldades como qualquer outra nos países em desenvolvimento. Há pobreza e faltam serviços básicos para a mínima qualidade de vida de sua população. Porém, além dos desafios normais, os habitantes de Pisco lutam até hoje para se reestruturarem após um terremoto que destruiu praticamente tudo ao redor no ano de 2007.
Nessa visita, presenciei a ocorrência de 2 tremores de terra. O trauma da população é visível: assim que o terremoto começa, todas as famílias já estão na rua fora de suas casas, os rostos estampados pelo pânico e no coração o temor de que os horrores daquele 15 agosto se repitam. Só quando tem certeza que tudo voltou ao normal que voltam a seus afazeres, mas durante todo aquele dia continuam com aquela sombra de medo.
A maior parte da cidade já foi reconstruída, mas as casas ainda estão todas pela metade, falta esgoto, falta água encanada, falta dinheiro para fazer um piso de concreto no chão de terra, para construir um teto que não seja de plástico e papelão.
A Ludoteca Juvetud Alameda foi fundada pela UNICEF logo após o terremoto juntamente com outras em diferentes bairros da cidade. É um espaço seguro onde crianças e adolescentes podem brincar, aprender, reforçar valores. Tudo isso, dentro do bairro com maior índice de violência e presença de gangues na cidade.
Vitalina era professora de educação física e foi capacitada pela UNICEF para coordenar o projeto na Ludoteca em La Alameda. As crianças lhe tem um imenso carinho  e ela gosta de cada um como se fossem seus próprios filhos. Desde o encerramento das atividades da UNICEF na cidade até hoje é graças a ela que o projeto ainda existe. Já trabalhou vários meses de graça por saber da necessidade das crianças. O projeto foi acolhido pela ONG Pisco Sin Fronteras -PSF entre 2010 e 2012, mas desde então não possui apoio, nem fundos de nenhuma organização. Conta apenas com a generosidade de antigos voluntários da PSF que fazem doações quando podem e do trabalho incansável de Vitalina, que teve que conseguir um segundo trabalho para poder manter sua família.
Por isso, a principal missão da Expedição Mutare durante sua estadia em Pisco foi procurar fontes de financiamento para o projeto e parcerias com organizações que pudessem apoiar a iniciativa com recursos ou outros tipos de parcerias.
Realizamos várias visitas a empresas locais e nacionais, ao governo local, a igreja católica e conversamos com organizações como o Corpo de Paz e World Vision. A busca foi incessante e algumas oportunidades surgiram com possibilidades de patrocínio e parcerias com as ONGs.
Apesar da dificuldade, esse projeto não pode deixar de existir. É bem perceptível a transformação na vida das crianças que cresceram naquele espaço – o único onde podem ser crianças, em uma cidade sem parques, sem praças, sem parquinhos nem atividades para crianças. Todos os voluntários que trabalharam com as crianças anos atrás são testemunha. E a alegria de cada criança quando ao espiar pela janela da pequena casinha de madeira descobrem que já podem entrar para brincar é um forte indicativo da importância desse lugar.
Continuo acompanhando esse projeto ainda continua, porque o problema não foi inteiramente resolvido. Mas Vitalina segue firme e forte, todas as semanas abrindo as portas da Ludoteca com seu sorriso para receber as crianças.