19-05-2014: Aventuras cruzando a fronteira – Do Panamá pra Colômbia
O Panamá na América Central e a Colombia, já na América do Sul, são separados pela região de Darién. Essa área é composta de selva fechada e é a única zona onde a Rodovia Panamericana é interrompida desde o Canadá até a Argentina. Já escutei diferentes teorias para isso: a selva fechada com pântanos e rios, a guerrilha colombiana, o tráfico de drogas e interesses econômicos. Mas seja lá por qual razão, as únicas opções para cruzar de um país para outro são de avião por mais ou menos 360 dólares, ou com veleiros turísticos, por 550 dólares.
Há, ainda, uma opção alternativa e mais barata: de avião teco-teco, barcos e ônibus por 265 dólares! Do oceano Atlântico ao Pacífico em uma hora e 2 dias para percorrer apenas 800 km! Adivinha qual escolhi? Algumas pessoas se preocuparam comigo, já que a área de Darien tem fama de perigosa. Mas essa rota é cada vez mais utilizada e eu não resisto a uma pechincha! Acompanhe meus passos e quem sabe você também não se anima?
A jornada começou com um voo em um aviãozinho de 15 passageiros saindo da Capital do Panamá até Puerto Obaldia, em Darién. A aeronave era bem pequenina e no check in, além de pesar as malas, os passageiros também são pesados! Para meu alívio, só os quilos extras das malas são cobrados…
A proximidade das hélices à janela deixava ver cada amassado e arranhão na lataria, o que dava um certo medinho. Além do forte vento resolvi entrando por sabe-se lá qual buraco nas paredes. Mas o voo foi lindo e eu parecia uma criança mudando de lugar no avião, trocando da janela da direita pra janela da esquerda. Decolamos sobre a saída do canal do Panamá (veja o vídeo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=VKMNbvsP81I) e voamos do oceano Pacífico para o Atlântico em apenas uma hora! Sobrevoamos a selva e as lindas praias da costa caribenha. De tirar o fôlego!
Ao chegar em Puerto Obaldia, nos surpreendemos com um oficial da fronteira pedindo uma “contribuição financeira”, já que ele alegava que sábado era seu dia de folga e que só abriria a imigração na segunda-feira. Claro que nem eu, e nem ninguém do pequeno grupo de colombianos fazendo o mesmo caminho, pagou.
Puerto Obaldia, Panamá
Seguimos para o primeiro trecho de barco. Uma lancha até a cidade colombiana Capurganá, também no meio da selva. Naquele ponto o grupo de colombianos, eu e um coreano já éramos todos amigos e estávamos todos unidos discutindo a cobrança exagerada na lancha pelo excesso de bagagem. Depois de meia hora, chegamos a Capurganá onde era necessário passar a noite, já que a próxima lancha só saia pela manhã. Lá fizemos a imigração para entrar na Colômbia e depois disso passei a tarde lendo na praia e pensando em como a minha vida é “ruim”…!
À noite, o grupo de colombianos fez a maior festa, dançando, dando quitutes locais pra eu experimentar e tentando ensinar espanhol pro coreano. Oficiais fortemente armados do exército fazem patrulha na região e aparecem e desaparecem no meio das árvores, hábito levemente assustador.
Na manhã seguinte, às 7h00 da manhã fomos esperar a segunda lancha. Essa nos levaria em uma viagem de 3 horas até Turbo, norte da Colômbia. O único problema foi a confusão na hora da pesagem da bagagem, já que por algum motivo “misterioso” cada mala mostrava 3 quilos a mais na balança! Depois de reclamar e brigar por um tempo, decidi ficar quieta já que esse barco era a única maneira que eu poderia sair dali e não queria que eles me jogassem no mar. Na lancha nos apertamos todos e o caminho foi um pouco cansativo, mas tudo era amenizado pela alegria do meu grupo de amigos colombianos.
Ao chegar em Turbo, fomos bombardeados por um grupo de homens tentando conseguir vender passagens de ônibus. Um deles me acompanhou até onde deveria esperar meu transporte até Monteria. Apesar de saber que não deveria, aceitei e só pechinchei o preço até um certo ponto. Mas passei o caminho me martirizando por não ter carregado as malas até o terminal de ônibus e economizar uns 2 dólares. Vida de viajante sem dinheiro é fogo!
No ônibus, estava entediada e com saudade de viajar no Chancho (o motorhome) até que um homem super simpático senta do meu lado, segurando uma galinha. Viva! Até aí normal, já que essa cena é vista em várias partes da América Latina. Mas aí, em uma outra parada, entra uma mulher com uma caixa cheia de cachorrinhos. Como se já não fosse o suficiente, mais pra frente entra uma mulher com um garrafão de plástico com 2 maritacas dentro, para completar o zoológico!
Chegamos finalmente em Monteria, onde corri para pegar o próximo ônibus para Cartagena. Como não tinha pesos colombianos, apenas dólares, o motorista queria me cobrar uma taxa de conversão extremamente abusiva. Tentei conversar e explicar minha situação de voluntária independente com um orçamento mínimo, mas nada adiantou. Foi aí que comecei a chorar (sério, não consegui controlar) e finalmente o motorista me cobrou o preço justo! A jornada não foi nada extraordinária até que, quando anoiteceu um lindo espetáculo começou ao longo da estrada: por vários quilômetros, milhares de vaga-lumes brilhavam nos campos das fazendas. Nunca vi tanto pisca-pisca!
Depois do cansaço de 2 dias intensos de viagem, finalmente cheguei a
Cartagena e fui muitíssimo bem recebida e hospedada pelos meus amigos Ana e Alex, que conheci no Peru! Fui conhecer a organização super legal que eles começaram, chamada Colombia para el Futuro! Confiram: www.colombiaparaelfuturo.org
Para aqueles interessados, super recomendo esse caminho. É divertido, bonito e apesar do cansaço, vale muito a pena! Abaixo, os custos e o tempo detalhados:
Voo Panamá City a Puerto Obaldia (1h10) – 120,10 dólares
Ônibus e taxi em Cartagena – 4,70 dólares
Total: 265,25 dólares