Expedição Mutare

O Colectivo Obreras Insumisas To Tlaktole Calaki Mo Yolo A. C. é um grupo formado por mulheres, indígenas em sua maioria, que trabalham para que outras mulheres costureiras e trabalhadoras das fábricas de roupas (maquilas) tomem conhecimento de seus direitos humanos, trabalhistas e comunitários para que possam lutar por eles. É uma organização sem fins lucrativos fundada em 2009, sediada na cidade de Tehuacán, estado de Puebla, no México.

Reyna Ramírez, uma das fundadoras e coordenadora da organização, nos contou que as maquilas tem um longo histórico de violação dos direitos trabalhistas: demissões injustificadas, não-pagamento de salários e direitos (como o décimo terceiro), salários insuficientes, jornadas de trabalho abusivas e condições de trabalho que afetam a saúde dos trabalhadores… Porém, devido à falta de outras opções de trabalho na região, muitas pessoas e principalmente as mulheres indígenas, crianças e adolescentes, acabam por se sujeitar a condições de trabalho lastimáveis. Muitas vezes nem mesmo se dão conta da exploração à qual estão submetidos.

Ao longo dos anos, os proprietários dessas fábricas desenvolveram algumas técnicas para camuflar as ações de violação praticadas, porém, o Colectivo Obreras Insumisas trabalha para difundir conhecimento e informação aos funcionários. Esse é o primeiro passo na luta por condições mais justas e saudáveis de trabalho.

Os trabalhadores das maquilas contam com sindicatos oficiais para defender seus direitos. Entretanto, na verdade os sindicados são formados por pessoas contratadas pelas próprias fábricas para intermediar em caso de conflito. Os trabalhadores nem sequer conhecem seus “representantes” sindicais. Se não há conflito, nem sequer aparecem na fábrica. Quando há, os sindicalistas se oferecem para intermediar, mas o que fazem na realidade é defender os direitos dos proprietários e não dos trabalhadores. Por isso, atrasam processos judiciais e fornecem informações aos empresários.

A maneira escolhida pelo Colectivo Obreras Insumisas para atuar nesse cenário foi a educação. Por isso, o grupo realiza atividades e workshops de capacitação sobre temas relevantes nos quais participam as trabalhadoras e também alguns trabalhadores das maquilas. As oficinas são realizadas nos diferentes bairros da cidade para atender a um maior número de trabalhadoras e todas são convidadas a participar. Ao longo dos anos, o coletivo realizou dezenas de oficinas nos temas de direitos humanos, direitos laborais, saúde ocupacional, igualdade de gênero, direitos políticos, psicologia e autonomia econômica.

Próximo passo: Formigas trabalhadoras!

Uma vez que o primeiro grupo de trabalhadoras já havia passado por todo o processo inicial de fortalecimento, elas perceberam que já estavam capacitadas e já conheciam seus direitos, porém as condições laborais nas maquilas continuavam as mesmas. Portanto, como poderiam melhorar sua qualidade de vida? Apesar da grande luta, ainda não conseguiram mudar as condições de trabalho nas fábricas. Muitas das que tentavam eram despedidas e colocadas na “lista negra”, dificultando a possibilidade de encontrar trabalho em outra fábrica.

Foi então que surgiu a ideia de criar uma cooperativa. Uma vez que todas sabiam costurar, ficou evidente que essa seria uma excelente área para começar o negócio, e foi assim que nasceu a Cooperativa Hormigas Trabajadoras! Um lugar onde poderiam ter condições dignas e saudâveis de trabalho.

Para possibilitar a criação desse projeto, o coletivo buscou a parceria de outras organizações para capacitar todas as mulheres participantes nos temas de autonomia econômica e gestão. Foi realizado um mapeamento das habilidades de cada uma onde se identificou que apesar de saberem costurar ainda precisavam aprender outros processos como corte e confecção, serigrafia e desenho. Com as parcerias estabelecidas com a ADECO, Semillas e Peuples Solidaries, conseguiram fundos para custear os cursos necessários e duas máquinas de costura. Seu primeiro projeto é o de confecção de bolsas de material reciclado, como calças jeans. Esse foi o produto escolhido pois além de ser um produto com apelo comercial, que respeita o meio ambiente e a saúde das trabalhadoras.

O coletivo também trabalha com os direitos das mulheres e igualdade de gênero, provendo sua difusão e a denúncia de suas violações. Os casos de discriminação nas maquilas é constante: demissões por gravidez, diferenciação de salários, acosso sexual, entre outros problemas aos quais estão sujeitas em seu local de trabalho. O coletivo é formado em sua maioria por mulheres, mas o seu trabalho é enfocado na sensibilização e não na rivalidade entre os gêneros, buscando a igualdade de homens e mulheres dentro da sociedade. As oficinas de capacitação auxiliam no fortalecimento dessas mulheres, fornecendo as ferramentas necessárias para que possam melhorar suas vidas e consequentemente a de suas famílias. Leia aqui duas histórias de trabalhadoras que tiveram suas vidas transformadas e que são um grande exemplo dos resultados alcançados pelo trabalho do Colectivo Obreras Insumisas!

Como você pode fazer a diferença?

A situação pode parecer muito distante da nossa realidade, qualquer seja o país em que você viva. Porém, seu papel nessa questão é mais importante do que você imagina! Olhe para as roupas que você está vestindo neste momento. Não importa se são de marca, se são baratas ou caras. A verdade é que as chances são muito grandes de que elas tenham sido produzidas com a exploração do trabalho de alguém. A condição dos trabalhadores das fábricas de roupas em praticamente todos os países onde elas são produzidas são normalmente muito ruins. Não se paga o suficiente para o sustento de uma família, as horas de trabalho são extremamente exageradas e as condições de trabalho desumanas.

A corrente deve ser quebrada no lado mais sensível: o consumidor. Ou seja, você! Ao comprar roupas de empresas que violam direitos humanos e trabalhistas, mesmo sem saber, ajudamos a perpetuar o problema. O que você pode fazer para ser parte da solução é garantir que as roupas que você compra são de marcas comprovadamente responsáveis. E não pense que marcas caras são as mais “boazinhas”! Na verdade, quase todas as grande marcas produzem da mesma maneira, e muitas fingem não saber como seus fornecedores tratam seus funcionários. Pesquise, se informe, compre de cooperativas e pequenos produtores locais. Dessa maneira, você ajuda a transformar a situação, pois no momento em que os consumidores exigirem condições justas para a decisão na compra dos produtos, as empresas não terão escolha se não mudar suas práticas de produção!

To Tlaktole Calaki Mo Yolo, o nome do Colectivo Obreras Insumisas significa, no idioma indígena nahuatl: “Nossa palavra entra em teu coração”.  Esperamos que estas palavras tenham entrado em teu coração e que você tenha se dado conta da importância de sua ação nessa causa!

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