19-03-2015: Mulheres Fortes da Amazônia – Equador


Próximo ao Rio Misahuallí, no meio da selva Amazônica, encontrei um lar. Um lar diferente de muitos outros, com muitas mães e irmãs, filhos ” de mentirinha” e uma familia Kichwa.

No Equador, a Expedição Mutare uniu forças com a cooperativa social Sinchi Warmi. Um grupo de mulheres da etnia Kichwa construiu com suas próprias mãos um centro de turismo comunitário com cabanas, restaurante, lagos para pesca e até museu da cultura indígena. Tudo foi construído com materiais da região e a maioria dos banheiros são ecológicos – banheiros secos. Tudo começou quando um padre trabalhando na região perguntou a essas mulheres como gostariam de melhorar a vida de suas famílias que viviam em condições de extrema pobreza. Ele conseguiu um financiamento de uma organização espanhola para a construção do hotel e restaurante.

A cada semana, as Sinchi Warmi (mulheres fortes no idioma Kichwa) se reuniram para construir elas mesmas toda a estrutura e que quando cheguei estava em seus estágios finais, na construção de uma das últimas cabanas. A acolhida que tive das Warmis (como se chamam umas às outras) foi maravilhosa. Em poucos dias já era parte da família e comia junto com todos meu prato de arroz, mandioca ou banana da terra frita – o que comi basicamente pelas próximas 3 semanas. Brincava com um dos 10 filhos de cada uma das mulheres e aprendia sobre a sua maneira de viver. Uma interação social muito diferente da qual estamos acostumados. Pudemos, juntas, pensar em soluções para vários dos problemas enfrentados por elas na gestão do centro comunitário.

Graças à minha formação em turismo pude ajudá-las oferecendo capacitações na atenção a clientes, otimização de processos, na busca de parcerias com agências de turismo e agências de voluntários. Trabalhamos em todo o material promocional do centro de turismo comunitário, com a ajuda da querida voluntária online Mariana Nazima, que desde o começo do projeto vem apoiando a Expedição Mutare do Brasil. Em algumas reuniões, tivemos momentos emocionantes que me fizeram compreender a diferença que iniciativas como a criação de cooperativas fazem na vida das pessoas. Os filhos de cada família sempre que chegam da escola abrem todos os armários e comem o que encontram pela frente, que normalmente são parte do estoque do restaurante. Por isso em uma reunião discutimos o assunto, que pra minha surpresa trouxe lágrimas aos olhos de algumas das mãe dali, que explicaram que simplesmente não tem comida em casa para alimentar as crianças. É pra mudar isso que elas lutam todos os dias ali para levar seu negócio adiante. Ouvi histórias sobre árvores amaldiçoadas, sobre a importância da mandioca como único alimento consumido durante dias de caçada na selva e vivenciei a maneira kichwa de se relacionar com os demais.

Fui acolhida, recebida como uma Warmi (mulher) parte da família e compreendi como a minha sociedade é diferente daquela. Até hoje as Warmis me escrevem pedindo ajuda e conselhos, não sem agradecer pelo meu trabalho e me contar das mudanças positivas que aconteceram depois da minha visita. Elas continuam lá, construindo e cozinhando, dormindo no chão e dançando. Sendo fortes e pouco a pouco moldando um futuro melhor para cada um de seus filhos.


11-03-2015: Quando o Equador não me quis


15 de junho de 2014 – Escrito por Thays Um dos maiores obstáculos de uma jornada por terra com essa dimensão é a grande quantidade de fronteiras a serem cruzadas. Fronteiras, apesar de serem linhas imaginárias criadas pelos homens, às Leia mais…