19-03-2015: Desbravando o altiplano andino – Bolivia


Viajar pela Bolívia nunca é fácil. A infra-estrutura básica do país não é muito desenvolvida, assim como a estrutura turística. Ônibus de viagem são em sua maioria bem desconfortáveis e devido à falta de asfalto em estradas e caminhos sinuosos viagens de 400 km podem durar 12 horas.
Por onde andei, todos sabiam que eu era estrangeira e por isso me olhavam diferente, cobravam preços diferentes. Há que pechinchar muito, e nem sempre os vendedores gostam de vender para estrangeiros. Eu entendo e respeito tudo isso e apesar de me sentir um pouco intrusa em algumas cidades, me sinto muito bem acolhida em outras e pude fazer grandes amigos nessa viagem, minha segunda visita ao país.
Comecei por La Paz, onde minha amiga de infância Thaís chegou do Brasil para me visitar por uma semana. Foi muito bom recebê-la e uma chance única de trazer coisas de casa e mandar outras de volta. Juntas, fomos visitar um dos lugares mais lindos que já conheci em toda a minha vida: O deserto do altiplano boliviano e o Salar de Uyuni.
Na internet, você encontra muitos relatos de blogs sobre as dificuldades que se pode enfrentar durante o tour ao salar, assim como as dicas para evitá-las. Mas parece que nosso grupo, que incluiu por coincidência outros 4 brasileiros e 1 boliviano, parece ter atraído a má sorte e durante os quatro dias de viagens enfrentamos inúmeros problemas!  Começamos com uma greve que fechou as estradas, não tínhamos comida suficiente, nosso carro furou o pneu mais de uma vez, o motorista perdeu o controle do veículo e os freios enquanto subíamos um barranco, a bolsa de uma das meninas do Tocantis foi roubada (mas a recuperamos!) .Tivemos que apressar um pouco a visita, por causa dos problemas com o carro. Sem falar do frio intenso e da falta de banho, que já esperávamos.
Mesmo com todos esses pequenos perrengues, o passeio foi espetacular! Uma planície branca coberta de sal que parece infinita, vulcões e montanhas rochosas, gêiseres, rios termais e o céu noturno incrivelmente estrelado mais belo que já vi. Tudo isso pertinho do Brasil e no país de custo de vida mais acessível para brasileiros da  América Latina.
Depois de Uyuni, eu e a Thaís seguimos viagem para Santa Cruz de la Sierra, cidade bem próxima à fronteira com o Brasil onde eu confesso que tive uma vontade imensa de voltar pra casa, afinal, nunca havia estado tão perto e já fazia quase um ano que estava na estrada. Em Santa Cruz, tínhamos uma missão de procurar vestígios da vida do avô materno da Thaís, que cresceu ali mas deixou o país por desgosto quando seu pai foi morto na guerra do Chaco.  Visitamos sua rua em procura da casa e procuramos o túmulo do seu bisavô no cemitério. Até que chegou o dia da Thaís me deixar e voltar para casa e mais uma vez eu segui meu caminho sozinha.
Fui para Cochabamba em busca de uma organização para o trabalho voluntário na cidade, onde sabia que havia mais ONGs e que era famosa pelos seus protestos e lutas sociais. Recomendo o filme “También la Lluvia”, que conta a história da vitória da população contra uma empresa estrangeira que havia privatizado a água da cidade.
Depois das agradáveis semanas de trabalho com a DECOOPSO (você pode ler sobre isso aqui) segui viagem para a fronteira com a Argentina. Foram duas noites seguidas de viagens de ônibus, quando tive a oportunidade de passar por Potosí e apreciar a montanha cheia de prata que foi praticamente esvaziada pelos espanhóis. Difícil não refletir sobre a colonização européia e os danos causados a toda América Latina.